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Foto do escritorRudá Lemos

Esquerda volta às ruas depois das Eleições



Com o fim das eleições municipais, a esquerda do Rio de Janeiro - especialmente aquela que não é estritamente partidária - tem voltado a ocupar as ruas, na busca por direitos e com uma força renovada. Após anos em que a direita tem mostrado dominar os atos populares e a disputa narrativa na sociedade, os setores progressistas mostram que estão determinados a reconquistar espaço no debate público e mobilizar a população.


Entre os eventos mais significativos nos últimos dias, podemos listar:


- “Sem anistia”: contra os golpistas e pela democracia

Na última quarta (11/12), no Largo da Carioca, pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos, os movimentos Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo mobilizaram trabalhadores, organizações sindicais e ativistas para exigir a prisão dos responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A indignação popular também se volta com a recente divulgação pela Polícia Federal do plano de assassinato do presidente Lula; seu vice, Geraldo Alckmin; e do ministro do STF, Alexandre de Moraes. O ato chama atenção ao absurdo PL 1685/2023 que propõe anistia aos agentes antidemocráticos flagrados (bem como seus incentivadores, como o ex-presidente Jair Bolsonaro) nas agressões cometidas no 8 de janeiro. Reagir a isso mostra a pressão popular para preservar as estruturas democráticas e a penalização do radicalismo de direita.


- PEC do Estupro

A defesa da democracia também se somou com a defesa do aborto legal. Diante do avanço em Comissões da PEC nº 164/12 no Congresso, os manifestantes contra a Anistia dos Golpistas também questionaram o que está sendo chamada de PEC do Estuprador. A proposta visa garantir a "inviolabilidade do direito à vida desde a concepção", atingindo os direitos reprodutivos consolidados há décadas no Brasil. O aborto seguro e legal até então garante a interrupção de gravidez nos seguintes cenários: anencefalia fetal, ou seja, má formação do cérebro do feto; gravidez que coloca em risco a vida da gestante; e gestação resultante de estupro. A pauta é de extrema importância para o movimento das mulheres e seus ideais de autonomia e saúde.


- Fim da escala de trabalho 6x1

No dia 15/11, manifestantes encheram a Cinelândia para defender a redução da jornada de trabalho. A mobilização, liderada pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT), tem levantado para a sociedade questões cruciais no contexto do recrudescimento do capitalismo: como exaustão laboral, bem-estar e qualidade de vida e produção. Na Câmara, a PEC é capitaneada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), em mobilização iniciada fortemente do Rio de Janeiro, pelo vereador recém-eleito, Ricardo Azevedo (PSOL-RJ) - o texto já tem mais de 3 milhões de assinaturas de apoio da população. Há ainda outra proposta já em tramitação na Câmara (PEC 221/19), do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que reduz de 44 para 36 horas a jornada semanal do trabalhador. Centrais sindicais e outros movimentos sociais já se manifestaram a favor da redução da carga horária enquanto entidades patronais e de empresários se posicionam duramente contra.


- A luta dos professores da capital

Embora a greve e os atos contra o PLC 186/2024, culminados na terça-feira (03/12), não tenham impedido sua aprovação pela maioria dos vereadores, o movimento evidenciou a resistência dos profissionais da educação contra as interferências em seus direitos e benefícios, como licença-prêmio, férias e a carga horária de trabalho. A garra da mobilização e o impacto das declarações de apoio, convocados pelo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), mostram que a categoria segue empenhada pela melhoria da educação pública e na valorização de seus trabalhadores.


- Ato em defesa da Palestina

Mesmo sob forte chuva, ativistas pela causa Palestina, no sábado (16/11), marcharam em apoio ao povo palestino que tem sofrido com o genocídio promovido por Israel. O ato ocorreu em paralelo às reuniões da cúpula do G20 e levantou o lema “Palestina Livre do Rio ao Mar: Fora Imperialismo!” na condenação às ações do exército israelense que já assassinou mais de 40 mil pessoas. O massacre completou mais de um ano e segue vitimando, em sua grande maioria, crianças e mulheres, em uma ação que impossibilita a entrada de itens médicos e remédios básicos, além do bombardeio de hospitais e escolas.


- Taxação de grandes fortunas para o combate à crise climática

No Leblon, uma moeda de 3 metros instalada pelo Observatório do Clima nas areias da praia, funcionando como uma pressão aos líderes do G20 que se reuniram na gerência rotativa neste ano no Brasil. Taxar os super-ricos como forma de financiar ações climáticas é mote da campanha. A proposta do Observatório é a taxação anual em 2% da riqueza de 3 mil bilionários para financiar grande parte da adaptação climática necessária às populações mais vulneráveis do planeta, como as de países pobres, povos da floresta, ribeirinhos, moradores de favelas e zonas rurais, que sofrem com inundações, secas e temperaturas extremas. E a pressão, pelo visto, surtiu efeito e, ao menos, no documento final derivado do encontro do G20, a taxação aos mais ricos foi incluída.


Um futuro de esperança e luta

A sequência de mobilizações no Rio de Janeiro aponta para uma reorganização da esquerda, que parece ensaiar um retorno da sua capacidade de pautar temas substanciais e articular movimentos diversos. A pluralidade — da defesa da democracia à luta por direitos trabalhistas, passando pela justiça ambiental e reprodutiva, bem como na solidariedade internacional — reflete a complexidade das demandas contemporâneas e a necessidade da esquerda de construir agendas abrangentes.


No entanto, os desafios permanecem. A disputa narrativa com a direita exige estratégias comunicativas mais eficientes e no fortalecimento do diálogo com a sociedade, em atenção aos seus verdadeiros e maiores anseios. Além disso, a sustentação de mobilizações contínuas dependerá da capacidade de articulação entre movimentos sociais, coletivos, sindicatos e partidos progressistas – na busca contínua em separar discordâncias profundas entre os variados grupos.


Com a esquerda novamente ocupando as ruas após o pleito eleitoral, o Rio de Janeiro sinaliza que a política não se limita aos gabinetes e urnas. A luta por direitos e justiça social continua viva, pulsando nas vozes de cada um daqueles que acreditam em um Brasil mais justo e igualitário. Sigamos!

Foto: Letycia Bond/Agência Brasil

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