Após agenda pelo Mês da Mulher, Hospital Getulinho recebe secretária da pasta
- Rudá Lemos
- 7 de abr.
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Atualizado: 10 de abr.

Após uma sequência de ações em consequência do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, a exposição realizada no Hospital Getúlio Vargas Filho, o Getulinho, no Fonseca/Niterói, contou com uma visita especial. A Secretária da Mulher do município, Thaiana Ivia, veio para a unidade pediátrica referência no estado do RJ, na última quinta-feira (03/04), conhecer os murais que enfeitaram os corredores. Usado como inspiração, o tema da comemoração neste ano pela ONU Mulheres tem tudo a ver com o contexto da pediatria: "O ano de TODAS as mulheres e meninas".
Construído pela equipe do hospital, a exposição em formato de “nuvem de palavras” derivou das perguntas “o que as mulheres já conquistaram na história?” e “o que desejam para o futuro?” realizadas por todos os setores do Getulinho, mobilizando as mães, crianças e as profissionais mulheres - maioria entre todo o corpo de funcionários do hospital - para refletirem sobre vitórias e desafios no horizonte de vivência delas.
As respostas foram variadas e fizeram muitas mulheres pararem um pouco na rotina do hospital para refletirem sobre as conquistas e desafios ligados à igualdade de gênero. Independência financeira, participação política, liberdade profissional e de estudo e maior assistência à saúde foram algumas das respostas mais dadas no campo do que as mulheres conquistaram. De modo que: maior igualdade e oportunidades, menos violência e mais respeito e garantia de se viver em paz foram alguns dos termos citados naquilo que as mulheres ainda almejam.
Durante a visita, a diretora do Getulinho, Julienne Martins, acompanhou Thaiana pelas instalações da unidade, que passa por reformas para a melhoria e ampliação dos atendimentos. “Ela me apresentou os trabalhos que a secretaria promove e combinamos de promover a divulgação deles para as nossas usuárias, além da participação da secretaria nos eventos que promovemos. Aguardem que teremos muita coisa boa no hospital!”, comemorou a diretora.
“O Getulinho é um espaço que vai muito além do atendimento médico: é um lugar de acolhimento e cuidado para nossas crianças e suas famílias. Fiquei profundamente tocada pelo olhar humanizado que a equipe dedica não só às mães que chegam com seus filhos, mas também às servidoras que fazem desse hospital um verdadeiro exemplo de excelência e carinho”, elogiou Thaiana.
Mulheres na ciência – A programação pelo mês comemorativo começou com uma roda de conversa, na quarta (12), entre pesquisadoras com o tema de enaltecimento da importância da presença feminina nos espaços, como os acadêmicos e científicos, dentro do campo da saúde. Participaram as profissionais da casa, Lauane Freitas, Janiciene Silva, Vivian Padial e Clarissa Osório e a convidada especial Lara Olej, do Hospital Universário Antônio Pedro, em mediação da Clarice Cunha, coordenadora do Centro de Estudos do Getulinho.
Oportunidade de trocas importantes entre essas mulheres, suas pesquisas relevantes versam sobre temas como os efeitos da Covid-19 nas crianças; o diabetes; e as síndromes gripais.
Crianças envolvidas – A equipe da Pedagogia Hospitalar, uma parceria entre as Secretarias de Saúde e Educação do município que garante ensinamentos para as crianças que estão no Getulinho, também realizou suas ações temáticas para os pequenos. Super-heroínas como a Vampira do X-Men e personalidades históricas como as guerreiras do Reino Daomé tinham que ser identificadas em um jogo de tabuleiro feito pela equipe. Além disso, com um tabuleiro com marcações no chão, em que as crianças eram os próprios personagens, outro jogo também trouxe reflexões sobre o lugar da mulher na sociedade.
Arte sensorial – Também através da atuação da Pedagogia Hospitalar, as profissionais do hospital se reuniram na quinta (13), estimuladas a pensar no próprio corpo e de suas colegas, com o toque, uso de objetos e texturas variadas e massagens mútuas. Ressaltando o conceito de ‘sororidade’, conceito de Kate Millett, dos anos 1970, que trata da união social entre as mulheres, a psicóloga, Lauane Baroncelli, citou a inspiração na dinâmica: “Baseado no trabalho de arte contemporânea, como o de Lygia Clark, utilizamos técnicas parecidas utilizando os próprios materiais do hospital como gazes e luvas”.
Além das interações entre as participantes, houve uma troca de falas sobre a importância do autocuidado e dos desafios em conciliar a jornada de trabalhos com os serviços de casa e/ou no cuidado dos filhos. Após essa etapa de desabafos emocionantes e empatias compartilhadas, as mulheres tiveram a oportunidade de pintar um quadro coletivo como uma vassoura emulando um pincel. A ideia era um desenho livre, que incentivasse a expressividade, levando ao ritmo de músicas de vários estilos. “Para a gente fazer essa experiência no conceito da ‘sororidade’ e coletividade toda a vez que a música trocasse, a mulher passava o ‘pincel’ para a outra, deixando-se levar pelo ritmo das músicas”, descreveu Lauane, ressaltando que o feedback das participantes foi recompensador.
Palestra sobre Direitos – Já no dia seguinte (14), a palestra com a Profa. Dra. de Enfermagem da UFF, Isabel Cruz, iniciou com todo um retrospecto da instituição do Dia Internacional da Mulheres pela Organização de Nações Unidas (ONU) e destacou os avanços principais conquistados pelos movimentos sociais e feministas. O incêndio em uma fábrica de Nova York em 1911 e a greve de operárias russas, justamente no dia 8 de março, em 1917, influenciaram para a criação da data pela ONU em 1975.
No Brasil, Isabel apresentou uma linha do tempo que vai desde 1827, quando foi permitido que meninas (não escravizadas) fossem para escola; passando pelo voto feminino a partir de 1932 - muito citado na dinâmica do mural já citada -; a importância do ano de 1962 com o direito à herança, guarda dos filhos, autonomia para trabalhar fora e a chegada da pílula anticoncepcional; a permissão de ter cartão de crédito em 1977; bem como de jogar futebol (1979).
Já nas últimas décadas, o impacto com a demora de certas conquistas se mostra expressiva: só em 2002 que a mulher não pode ter seu casamento anulado pelo marido por não ser virgem; e em 2023, há apenas dois anos atrás, permitiu-se o procedimento de laqueadura sem autorização do marido. Destaca-se também a Lei Maria da Penha em 2006 e a Lei do Feminicídio (2015).
Mas temos muito a conquistar... Segundo ela, “a iniquidade sexual e de gênero se manifesta em disparidades salariais, violência real e simbólica, falta de acesso a serviços e sub-representação em cargos de liderança e poder. Questões como acesso limitado a serviços especializados, violência de gênero e disparidades raciais afetam desproporcionalmente mulheres, jovens, adolescentes e meninas (cis e trans)”.
Utilizando dados demográficos recentes de Niterói, Isabel demonstrou que dentre as mais de 31 mil crianças da primeira infância (0 a 6 anos), 45,5% são negras (pretas/pardas) - e entre as jovens de até 19 anos que se tornam mães o índice de negras é de 73%, enquanto as brancas estão em 26% - indicando a importância do seguimento com as diretrizes da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) e da atenção dos profissionais aos recortes de "raça/cor", bem como também da identidade de gênero, garantindo o acolhimento pleno das pessoas trans.
Bem-estar - Além de todas essas ações o hospital forneceu para as profissionais de saúde, sessões de cuidado e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) como massoterapia e auriculoterapia, contemplando tanto o turno da manhã, como o da noite.
Uma das organizadoras das ações, Denise Melo, assistente social do Getulinho, sintetizou o trabalho realizado: "O que fizemos aqui é promoção de saúde, isso aqui é cuidar das trabalhadoras, desde a saúde mental como todo o cuidado em saúde. A gente não tá fazendo nada aleatório, isso tudo está dentro de uma proposta, que é uma visão política e de valorização da saúde”. Nesta linha, o diretor administrativo, Anselmo Carvalho, reforçou, ao enaltecer o comprometimento dos profissionais que organizaram as atividades: “se temos um dia específico para celebrar o dia da mulher, é porque tem muita coisa ainda para a sociedade conquistar”.
E, mostrando que as atividades serviram tanto para a reflexão como também para a integração entre todas, uma plataforma de filmagem em 360º fez a alegria das mulheres, ao som de “Flowers” da Miley Cyrus. Na música, a cantora norte-americana celebra a autonomia feminina, presenteando a si mesma com flores e rejeitando a ideia de que a felicidade e a realização precisam vir de um par romântico. Nesse espírito, o Getulinho, cuja maior força de trabalho é movida pelo gênero feminino, ajuda a criar um acervo de memórias e estimula ideias para uma verdadeira equidade entre homens e mulheres e, claro, entre todos meninos e meninas.
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